Hurghada e Cairo – Egipto

Hurghada e Cairo – Egipto

10 de Agosto, 2003 5 Por Vitor Martins

Em Agosto de 2003 fomos conhecer o Egipto… Seria a nossa primeira viagem para o estrangeiro a dois!!!

A ansiedade era muita, seria o nosso primeiro país africano e de religião muçulmana!!

Compramos um pacote de viagem para Hurghada, uma cidade turística do Egipto, localizada nas margens do Mar Vermelho. A ideia inicial seria irmos até Hurghada, durante a semana explorarmos alguns monumentos e regressarmos via Cairo, mas o forte calor seco (chegámos a ter 45 graus…), que apanhámos estragou-nos muitos planos. Fomos desaconselhados a fazer muitas viagens, como conhecer as tão famosas pirâmides de Gizé… 🙁 Ficará com certeza para a próxima vez, quem sabe com a ajuda do António Samir ou da Kelly Maya, dois excelentes profissionais que estão ao dispor para visitas guiadas pelo magnífico Egipto! 🙂

A nossa inexperiência e o medo do desconhecido fizeram com que ficássemos uma semana na estância balnear, só saindo para as imediações do hotel, onde haviam muitas ruas de comércio, quer de dia quer de noite.

E foi exactamente aí que começou o nosso primeiro contacto real com o mundo árabe. Passeámos pelas ruas, apreciamos as pessoas, os seus costumes, os seus movimentos, a forma como nos abordam, tudo isto era um mundo completamente novo para nós. O medo esteve sempre presente nesta viagem, as pessoas mal falavam inglês e muito menos português.

Um dos dias que passeávamos pelas ruas, um vendedor convidou-nos a entrar na sua loja… Como precisávamos de comprar algumas lembranças, entrámos. A loja estava repleta de carpetes, passámos um corredor, dois corredores e nas laterais outras lojas interiores com artigos diferentes, até que por fim chegámos a um local com uma grande mesa redonda com bancos e nos convidaram a sentar… Tudo aquilo estava a ser muito estranho para nós, chegámos a temer o pior, mas de seguida logo nos apercebemos do que se tratava… Era simplesmente um gesto de cortesia, os comerciantes sentam os clientes, oferecem-lhe chá, que no mundo árabe é bebido como nós bebemos o café, e aproveitam para começar a perceber o que o cliente necessita. Depois de falarmos e vermos os produtos que queríamos, passamos a outra fase, a negociação… normalmente iniciam sempre com um preço alto, mas tudo é negociado, aliás se o não for, pode ser visto como desrespeito pelos comerciantes… agora compete a cada um conseguir o poder negocial para atingir os seus objectivos!!! Estava a começar a gostar disto!!

E lá voltámos para o hotel… O hotel era simples e modesto, tinha uma parte de hotel e depois uma piscina e de seguida, vivendas geminadas com mini-jardins na frente e um corredor enorme até à praia… Nós estávamos nas vivendas perto do mar… a nossa praia era privada, tinha cordas a marcar os limites tanto de saída para nós como de entrada para os locais… Na praia ao lado, só separada pelas cordas, víamos mulheres a tomar banho de vestido, tudo tão diferente do que estávamos habituados… Os homens na praia estavam sentados e tinham por vezes, três ou quatro mulheres à sua volta… viemos a perceber que eram todas mulheres do mesmo homem, e que mediante as posses poderiam ter até 7 mulheres…

Sem comentar ainda nada, passados cerca de dois dias por aqui, já me tinha apercebido que a Ana era lidada com mais desprezo pelos empregados no hotel, nos negócios, mas não por maldade, mas sim pela cultura instituída da mulher. Mas nem sempre foi tratada com mais distância…

No terceiro dia decidimos fazer um dia de mergulho nas águas limpas e translúcidas do mar vermelho. Fomos pela manhã numa lancha com dois tripulantes e seis passageiros. Seguimos em direcção ao primeiro recife de coral, ao longo da costa de uma das regiões desérticas do planeta, encontra-se um mundo submarino repleto de vida marinha. São os recifes de coral do Mar Vermelho e fazem parte dos dez corais mais belos do mundo. Com fronteira com o Sahara de um lado, e deserto da Arábia Saudita do outro, este recife tem mais de 1.200 milhas de comprimento, existem há mais de 5.000 anos. As suas origens estão em algum momento antes do reinado dos antigos faraós egípcios.

Abrangendo cerca de 6.300 milhas quadradas entre a Península do Sinai, no Egipto, e o Golfo de Aden, os recifes do Mar Vermelho são considerados um  dos mais espectaculares do mundo. Estávamos noutra dimensão… Os corais são imensos, por ali passámos horas, até que seguimos em direcção a outra zona onde podemos ver a Arábia Saudita ao fundo e onde o mar fica com duas cores, uma azul mais claro e outra azul mais escuro… que lugar!!! Por aqui ficámos até depois de almoço, sim porque almoçámos no barco um peixe grelhado feito na hora delicioso, e para sobremesa o barco dos gelados chegou para vender gelados e águas a quem quisesse!! Muito bom!! 🙂

Os dias seguintes foram para descansar, muitas vezes era difícil devido ao calor que se fazia sentir, até na água do mar estávamos quentes, e pior ainda ser um calor seco que as vezes até dava falta de ar, mas que é normal naquela zona do globo…

Na praia, tínhamos um amigo, uma criança que puxava todos os dias as enormes botijas de mergulho, e que já conseguia conversar em inglês perfeitamente… Trabalhava ali, tinha 9 anos e não estudava, dizia que era feliz ali a conviver com pessoas diferentes e a ganhar dinheiro para ajudar a sua família… Grande Sami, deixou saudades!!

Outra grande diferença foi a comida, logo na primeira noite um cheiro intenso a caril, comidas muito condimentadas a base de frango e borrego, um calor insuportável e pessoas a almoçarem ou jantarem comida com tanto picante que até suavam… confesso que naquela semana tivemos de recorrer aos famosos hamburguers, que nem a vale a pena dizer o nome porque de comida aquilo tem pouco, mas não era fácil comer todos os dias com aquele cheiro intenso… esquisitices de viajantes de primeira jornada!!

Nesta viagem, estivemos pela primeira vez em contacto com um mundo completamente desconhecido para nós, foi uma das maiores lições de vida que alguma vez tivemos em termos pessoais… ser de outra cultura ou de outra religião, apesar de todas as diferenças, não nos pode levar a guerras como as que acontecem todos os dias. Somos todos seres humanos e conseguimos com boa vontade conviver juntos.

A nossa estadia por Hurghada estava a chegar ao fim, iríamos fazer a viagem até ao Cairo de autocarro, que se revelou numa das maiores aventuras em viagens… Entrámos já de noite, um calor insuportável, pedimos para ligar o ar condicionado e o condutor disse que só com o autocarro em andamento, mas ainda faltavam 15 minutos e lá tivemos nós de esperar… passados 30m arrancámos para 5h de viagem até ao Cairo… Passados 10kms, a estrada era só rectas, filas e filas de autocarros sempre em andamento, até que nos apercebemos que o nosso autocarro não levava as luzes ligadas, perguntamos ao condutor e ele com ar sério disse-nos que não iam ligadas para poupar energia! 🙂 Em toda a viagem, além dos faróis desligados, ultrapassagens perigosas eram banais, música em volume mais alto… uma verdadeira emoção durante 500kms… 🙂

Pela manhã chegámos ao caótico trânsito da cidade do Cairo, para trás tínhamos deixado 5h de deserto, serras áridas e como seguimos sempre paralelos com o mar vermelho, víamos muitos poços de petróleo, cimenteiras…

O Cairo é caótico!!! É a maior cidade do mundo árabe e de África… Passámos pela praça Tahrir, que passado uns anos se tornou ainda mais conhecida pelas manifestações da primavera árabe, pela Torre do Cairo e por várias mesquitas, destacando a Mesquita de Muhammad Ali.

A cidadela de Saladino – e na verdade, o horizonte de Cairo – é dominada pela Mesquita de Alabastro, ou Mesquita de Mohammed Ali. Modelada em linhas clássicas turcas, levou 18 anos para ser concluída (1830-1848), com as cúpulas reconstruídas mais tarde. Foi encomendada por Mohammed Ali, governador do Egito em 1805-1849, o qual reside no túmulo de mármore à direita da entrada. No pátio central podemos observar um belo relógio, um presente do Rei Luís Filipe da França, em agradecimento pelo obelisco faraónico que adorna a Praça da Concórdia em Paris, foi danificado durante a entrega, e continua à espera da reparação…

O dia estava a terminar… o calor continuava sempre seco e insuportável… deixávamos o Egipto com tanta coisa por ver, mas com a experiência vivida com o povo e aprendendo um pouco desta cultura tão vasta..

Um dia voltaremos!! E iremos com certeza estar com estes dois amigos que tão bem têm mostrado o Egipto aos Portugueses!

A Kelly – https://www.facebook.com/raquel.maia.campos

O António Samir – https://www.facebook.com/sam.h.gars