Gentes de Havana – Cuba

Gentes de Havana – Cuba

9 de Julho, 2019 8 Por Vitor Martins

Chegámos finalmente a Cuba. A tarde estava calorosa como sempre por aqui. Conseguimos transporte para o centro de Havana e já com a noite a cair, chegámos ao navio de cruzeiro, estacionado no porto do centro da cidade.

Acordamos bem cedo na manhã seguinte, tínhamos dois dias para explorar a cidade antes de partirmos no cruzeiro pelas Caraíbas e depois mais dois dias quando regressássemos.

Até agora tudo estava perfeito! 😀

O terminal de cruzeiros onde estava o MSC Armonia era mesmo em frente ao centro da cidade.

Nesta bela manhã de domingo, tudo estava em harmonia.

Chegou a hora de nos misturarmos com as gentes de Havana!

Entrando nas primeiras ruas, tudo parece normal. Passadas duas ruas, fomos abordados por um rapaz, que nos queria fazer uma visita guiada pelo centro da cidade.

Este simpático rapaz, percebeu que éramos portugueses, e logo nos disse que tinha estado no nosso país em 1998 e que tinha adorado. Ficámos um pouco reticentes em relação ao que nos estava a dizer, mas depois de lhe perguntar onde tinha estado e com quem, ficámos a perceber que era mesmo verdade.

O Mainoldy Herrera veio para Portugal, na altura da Expo 98, com uma banda para tocar em eventos. Fizeram a Expo, mas até Outubro estiveram no Algarve, onde actuaram nas mais famosas discotecas e bares.

Foi o único país que visitou e guarda memórias inesquecíveis. Era a pessoa certa para nos mostrar Havana!

Para que ficássemos a perceber um pouco de como funciona o sistema, foi-nos mostrar um “supermercado” tradicional de Havana. É aqui que as pessoas, com as suas senhas, que ganham trabalhando, vêm buscar a alimentação para as suas famílias.

Estão sempre sujeitas ao que encontram nas prateleiras e como podemos ver, tabaco e álcool, nunca faltam.

O nosso amigo, em tom de revolta, fez questão de nos mostrar, um dos principais problemas sociais que o país continua a atravessar. Quando falava mal do governo, metia a mão em frente à boca e falava muito mais baixo.

Sinceramente, a partir deste momento, todo o património e história que pudesse ver ou ouvir seria secundário. Ver com os próprios olhos, o que estava naquele supermercado para alimentar crianças, adultos e idosos, chocou-nos bastante.

Com aquele espírito de incapacidade total, lá seguimos nós o nosso caminho.

O Mainoldy andava connosco pelas ruas que foram restauradas para os turistas verem. Levou-nos a este mural fantástico que retrata um pouco da época colonial.

Por aqui tudo parecia perfeito! De seguida fomos visitar a magnífica Catedral da Virgem Maria datada de 1750.

Depois de apreciarmos a lindíssima estátua em homenagem ao Papa João Paulo II, que em 1998 fez uma visita histórica a Cuba, saímos já com alguma sede, em direção à Bodeguita del Medio! 😉

Ainda era muito cedo, e por isso ainda estava fechada, mas iríamos voltar com certeza! Foi aqui que começou a nossa rota do tabaco e do rum. O nosso (já) amigo, foi-nos dar a provar um magnífico Rum na sua humilde e apertada casa e foi lá que conhecemos a sua esposa e a sua simpática neta. 🙂

Apesar de minúscula, a casa do nosso amigo estava muito limpa e cuidada. Depois de alguma conversa e de ficarmos a perceber que as rendas são enormes e que as condições são péssimas por aqui, como o saneamento básico que não existe, voltámos para a rua.

Uma hora e meia depois, o nosso amigo, mais desprendido e com mais confiança em nós, exprimia a sua revolta. Muitas coisas são limitadas a alguns, só que isso faz com que exista ainda mais contrabando e formas de tentar arranjar as coisas, como foi o caso dos charutos Cohiba.

Depois de falarmos um pouco e de termos ido a uma feira de artigos tradicionais, decidi que poderia trazer uns charutos de lembrança para alguns amigos.

Percebi que nas lojas eram bastante caros, mas sabia que na semana seguinte iria a uma fábrica no interior do país e que conseguia a preços bastante mais baratos, mas mesmo assim, a conselho do nosso amigo, fomos visitar um mercado negro de charutos!

Por lá, era expressamente proibido tirar fotografias, e as caixas multiplicavam-se em cima das camas dos quartos da casa. Um simpático rapaz tratou de nos explicar como funcionava, só que só vendiam à caixa e isso não me interessava.

Dez minutos depois, voltávamos à rua.

O Mainoldy conhecia outra pessoa que vendia charutos e decidimos comprar uns para depois podermos comparar com os da fábrica. Nos intervalos, o Mainoldy não se cansava de falar em Portugal, e nos momentos que lá passou.

Olhavamos para ele, e imaginávamos que com 18 anos teve liberdade quase total, e agora está preso num sistema que não o deixa crescer. Esta realidade pura e dura, entristece-nos mas ao mesmo tempo ficávamos encantados pela forma como ele dizia que queria sair do país e tentar uma vida melhor.

Na cabeça dele, o plano estava traçado! 🙂

Sem nos apercebermos, as ruas de Havana já estavam a “entranhar-se” em nós!

Este labirinto de ruas e de pessoas, fazia como que estivéssemos a recuar 50 anos no tempo.

A nossa última paragem foi no Hotel Ambos Mundos onde o famoso escritor norte-americano Ernest Hemingway passou durante mais de vinte anos, mais de dois meses por ano.

Por aqui existem memórias inesquecíveis do escritor e foi aqui que terminou o nosso dia com o Mainoldy.

Depois de descansarmos um pouco, fomos andado de volta ao porto, e o Mainoldy falando das suas aventuras por Portugal. Retemos as suas últimas palavras para o resto da vida.

Quase na altura da despedida, perguntou-nos se tínhamos maçãs no barco, ao que prontamente respondemos que sim. Ele pergunta se era possível trazermos duas na mala amanhã, que ele adorava e a neta nunca tinha provado, mas nos supermercados quase nem fruta existe e assim o acesso é impossível… 🙁

No dia seguinte, fizemos-lhe a vontade e levamos-lhe as duas maçãs, não levamos mais porque existem restrições na saída. Conseguimos sair com três maçãs, e ao nos deslocarmos para casa do Mainoldy, vimos um senhor a pedir, com ar de louco, mas sempre com um sorriso na cara.

Não resistimos e oferecemos uma simples maçã, e ao ver a reacção na cara dele ganhámos novamente o dia!

Olhou para a maçã de sorriso largo e comeu-a em poucas dentadas. Como forma de agradecimento, deixou-nos tirar umas fotografias dizendo que agora estava muito mais forte! 😀

Fomos entregar as maçãs ao Mainoldy, mas a neta estava na escola e não podíamos ficar para apreciar se gostava ou não de maçãs… 🙁

O resto do segundo dia pela ruas de Havana, foi dedicado aos subúrbios!

Jogámos futebol com os miúdos, percorremos ruas e ruelas, bebendo Rum, e provando as muitas e deliciosas iguarias Cubanas.

Convivemos com pessoas com bom coração e isso também nos trouxe alguma esperança num futuro melhor para estas pessoas…

O famoso Capitólio foi o destino final desta nossa primeira passagem por Havana, e por lá descansamos um pouco.

Saindo da cidade e entrando no barco o que ficará nas nossas memórias, é como que se tivéssemos entrado numa máquina do tempo ao sair do terminal e voltássemos novamente quando entrávamos. 🙂

Uma semana depois, carregada de grandes aventuras, voltaríamos a entrar na “máquina do tempo” durante mais dois dias.

Ficámos alojados na zona menos turística, o que nos deu uma perspectiva ainda mais profunda de Havana!

Nos últimos dias da viagem, conhecemos um casal maravilhoso de Sintra, a Teresa e o Diniz. Com eles passámos horas à conversa.

Eles já vêm a Cuba há mais de vinte anos e ficaram amigos de uma família, que ajudam conforme podem. No dia da saída do barco, lá estava a família Cubana, à espera dos amigos, na entrada do Porto.

Eles tinham levado várias malas, com a ideia de as deixaram lá para eles, mas estavam com medo que não os deixassem passar com as compras que fizeram para eles.

Ainda ajudamos a levar uma das malas, e no fim tudo acabou em bem, apesar de envolto em algum suspense.

Realmente estas histórias fazem-nos pensar que ainda existem pessoas com bom coração e que é tão bom sermos amigos!

Podemos ver esta fotografia por todo o país, mas nós embrenhados na história das pessoas, acabamos por ainda não falar dele. Che Guevara é um ídolo da nação e um líder de uma revolução muito importante para os Cubanos.

Bom era hora de ir conhecer os nossos novos aposentos durante dois dias. Para já a vista era esta…

Estes humildes aposentos, tinham bastante limpeza, o resto é o normal para as exigências deste país.

Seguimos pelas ruas da cidade, abordando as pessoas e brincando com elas.

A disposição apesar de tantos problemas reina por aqui. Esta noite iríamos beber um copo, como já tínhamos feito na nossa primeira passagem por Havana!

Depois de bebermos um delicioso Rum, voltámos para casa. Pelo caminho, ficámos a perceber que a educação é um pilar fundamental neste país, pena que não seja aproveitado de outra forma.

Passámos também por uma estátua perto da universidade em homenagem a Luís Vaz de Camões!

O dia estava a chegar ao fim, no dia seguinte decidimos apanhar um autocarro e ir visitar as zonas ainda mais longínquas da cidade. Por aqui também existe um Vitor!! 😀

Fomos visitar a famosa imagem e frase de Che Guevara!

As nossas férias por Havana estavam a chegar ao fim…

Foi uma viagem rica em peripécias, conhecimento, surpresas e amizades.

Iríamos sair da “máquina do tempo” com outra perspectiva!! Sempre a aprender!

Sejam felizes! <3