Ilha Berlenga – Peniche

Ilha Berlenga – Peniche

10 de Agosto, 2008 15 Por Vitor Martins

Em Agosto de 2008 decidimos ir passar um fim de semana à Ilha Berlenga, a cerca de nove quilómetros do Cabo Carvoeiro. Foi uma grande aventura!!

Fomos com dois casais amigos, tínhamos de apanhar o barco que nos levaria às Berlengas e lá ficávamos instalados na pousada que outrora, já foi a Fortaleza das Berlengas.

O Forte de São Baptista das Berlengas, data de meados do século XVIII, foi D.João IV que o mandou construir,com o objectivo de proteger a cidade de Peniche, mas antes a ilha já tinha sido habitada por uma comunidade de frades jerónimos que edificou o Mosteiro da Misericórdia da Berlenga para auxílio aos náufragos, no entanto os ataques de corso afastaram os frades do arquipélago.

Foi então edificado o Forte de São João Baptista, sobre um ilhéu junto à enseada da ilha e a ela ligado por uma ponte de alvenaria. O projecto da fortaleza é atribuído ao engenheiro Mateus do Couto. Em 1666 o Forte da Berlenga foi preponderante para travar o ataque de uma esquadra espanhola, que tinha por objectivo raptar a rainha D. Maria Francisca de Sabóia na sua chegada a Portugal, à época do seu casamento com D. Afonso VI. Depois deste ataque o rei mandou reparar a fortaleza, aumentando o poder de fogo da mesma, como atesta a inscrição na porta de armas. Durante as Invasões Francesas, serviu de base a tropas inglesas, tendo sido posteriormente pilhada pelos franceses. Em 1821 D. João VI ordenava um novo restauro da fortaleza, mandando reedificar a capela, anos antes queimada pelas tropas napoleónicas. Foi ainda utilizada durante as Guerras Liberais, servindo de base às tropas de D. Pedro para a conquista da fortaleza de Peniche, ocupada por forças miguelistas. Catorze anos depois foi desartilhada, o que levou ao seu gradual abandono.
Na década de 50 do século XX a Fortaleza de São João Baptista foi restaurada pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais para uma posterior adaptação do espaço a pousada, e foi lá que ficámos instalados…

Bom, depois de conhecermos um pouco da história deste tão importante monumento nacional, saímos bem cedo do porto de pesca de Peniche em direcção ás Berlengas..

O dia estava fantástico, mas o caminho que nos leva até às Berlengas é muito famoso pela agitação das suas águas, devido as correntes marítimas. No porto parecia estar tudo calmo, mas quando entrámos no mar, mesmo depois do Cabo Carvoeiro, as ondas eram enormes, e o barco lutava contra as ondas.

Parte das pessoas ia no interior do barco, incluindo a Ana, mas as ondas chegavam ás janelas e a indisposição tomou conta dela..Eu fiquei na parte de cima, ao ar livre, olhando para o horizonte, e recebendo no corpo a água vinda das fortes ondas. Foram vinte minutos duros, ao meu lado, vi pessoas a vomitar, mas também vi uma tripulação completamente tranquila, sabendo que isso lhes acontece centenas de vezes por ano. A Ana, a conselho de uma amiga, decidiu tomar comprimidos relaxantes antes de partir..A sonolência e as náuseas tomaram conta dela. Quando finalmente chegámos a linda ilha, decidimos subir a pé com as malas até ao forte, o que se revelou uma tarefa extremamente complicada. A distância é longa e as subidas e descidas, são muitas, mas compensa realmente pela vista..

A viagem de barco estava ultrapassada, estávamos encantados com esta vista, com estas águas translúcidas, a natureza em todo o seu esplendor…

Já no alto, deixámos de ouvir as pessoas que se banhavam na praia, ou que estavam a acampar no parque de campismo, para além do forte, podemos ficar instalados em casas perto do porto ou então uma opção bem mais barata, trazer a tenda e acampar, as vistas do parque de campismo são de cortar a respiração..

O barulho das pessoas deu lugar, ao barulho das gaivotas, que são milhares na ilha, e que com um pouco de azar, fazem as suas necessidades ao passar por cima de nós e nos vem parar a cima, como aconteceu a um dos membros do grupo..Mas, passado quase uma hora a carregar a mala, avistámos finalmente o Forte!

É realmente um lugar extraordinário!!As praias de água azul turquesa que circundam o monumento, fazem desta vista uma das melhores de sempre..Para mim, a viagem de barco já tinha valido a pena!!

Sem me aperceber, a Ana, sempre forte, nunca se queixou muito, mas estava extremamente sonolenta e mal disposta…Chegados ao forte, fomos recebidos por um rapaz, os quartos estavam a ser explorados por uma associação recreativa de Peniche, e as pessoas não tinham formação para estar ali.

Com muita confusão à mistura por serem três quartos, e pelos vistos o forte estar cheio, lá nos encaminhou por volta das 14h, para os nossos aposentos, que seriam na parte do átrio do forte..

Só que depois surgiu outro problema, dois dos quartos ainda estavam ocupados, as pessoas sairiam as 15h, não percebemos porquê, e deixámos todas as malas num só quarto..A Ana só queria dormir, mas o quarto era tão pequeno e com tão más condições, que ela decidiu descansar num sofá na sala de espera da pousada..Pousada esta que até agora se estava a revelar um autêntico fiasco, o preço a pagar pelos quartos tinha sido extremamente caro para o que nos apresentavam..

Decidimos então ir dar um passeio num barco turístico, conhecer as imediações da Berlenga e as suas famosas grutas. A Ana decidiu ficar a descansar, ainda mal disposta e meio desorientada..

O passeio de duas horas vale mesmo muito a pena, as imagens falam por si, as grutas são lindas e a “tromba do elefante” é outra imagem de marca da ilha…

O nosso passeio acabou por volta das 17h30, fomos mandar uns mergulhos numa das praias ao lado do forte e pelas 19h voltámos à Pousada.

Foi nesse momento que nos aconteceu, o episódio mais assustador e ao mesmo tempo hilariante de todas as nossas viagens até agora…Chegámos à Pousada, apinhada de pessoas, na recepção já tínhamos outra pessoa, completamente desorientada com tanto trabalho. A Ana já não estava no sofá da recepção e ficámos a pensar que teria ido para os quartos a esta hora já vagos..

Nós fomos sempre com a ideia de que os nossos quartos seriam onde nos tinham dito horas antes, por isso pedimos a chave do quarto onde tínhamos as malas e as outras duas…uma delas não estava lá, pensávamos nós que tinha sido a Ana que a tinha levado..

Chegados aos quartos, estava tudo bem, menos o nosso, a Ana não estava lá!!Batemos em todas as portas daquele sector, e não estava em lado nenhum…

Na minha cabeça começaram a surgir vários pensamentos, desde logo porque estava mal disposta, desorientada…Passado meia hora, já com mais de metade das pessoas a procurar, ainda não tínhamos encontrado nada..

A noite não tarda chegava, e nós já em desespero, formamos equipas que a foram procurar para a outra parte da ilha, e nós ficámos nas imediações a ver o que se passava em volta, a situação começava a ficar muito grave, quase uma hora se passava e não sabíamos nada dela, a ilha era pequena, o tempo estava a passar, e as probabilidades de aparecer nas nossas mentes era cada vez mais reduzida..

Decidimos ir de barco ao porto, zona mais movimentada, procuramos por ela e ninguém a tinha sequer visto…Voltámos novamente, duas horas se tinham passado, o desespero apoderava se de mim…No meu pensamento, estavam situações como rapto, desorientação momentânea e queda para o mar, um misto de sensações e emoções, pelos quais já tinha passado uma vez na vida e não queria voltar a passar…

Por volta das 20h, talvez já tarde demais, decidimos alertar as autoridades marítimas, através da recepcionista, sim porque lá não tínhamos rede de telemóvel e muito menos internet….

Passados 10 minutos chegou o responsável marítimo, que me chamou à parte, e me fez várias questões, como por exemplo se tínhamos discutido, se ela sofria de depressão e muitas mais…Eu, já extremamente desorientado, lá fui respondendo e ele lá me foi acalmando…

Começaram então os procedimentos para começar a efectuar a procura, o primeiro seria evacuar a Pousada, e procurar por todo o lado, e assim foi…As autoridades começaram a bater porta a porta, e eu com eles na frente, perguntado às pessoas se tinham visto aquela pessoa..No meio do caos, dois miúdos disseram que tinham visto uma pessoa deitada no quarto que supostamente seria o deles, mas que depois o trocaram, mas no meio de tanta confusão e opinião, passadas quase três horas, ninguém ligou.

Na minha cabeça, a noite iria ser dura, teríamos que fazer tudo para a encontrar durante o dia, só ouvia o som agudo das gaivotas a pairar sobre as nossas cabeças, como que a me tentar fazer esquecer por aquilo que estava a passar..Todos estávamos em desespero completo, não era nenhum sonho…

Batemos em mais de vinte portas e nada, até que, numa delas, a Ana abre a porta, com ar ensonado, sem saber de nada, e o agente marítimo pergunta: a senhora é a Ana Carvalho? e ela responde: sim, sou!! Eu corri para os braços dela, descarregando todo o desespero naquele momento! !Parece que tinha ficado mais leve que uma pena, a emoção era tanta, que só tremia e chorava de alegria!!!!

Pois é, o erro do rapaz a meio da tarde, levou a todo este triste episódio, ele mudou o nosso quarto, para os do interior do forte, nós nunca pensávamos que ela estaria lá, porque os nossos quartos já nos tinham sido atribuídos!!!Não havia comunicações, o que dificultou ainda mais toda esta situação, mas que felizmente acabou em bem!

Fomos então jantar, a Ana já muito melhor, e de seguida fomos descansar, nos quartos que estão muito mal cuidados e que merecem outro tipo de preservação pelo historial que tem.

O dia seguinte amanheceu solarengo, tomámos o pequeno almoço na bela esplanada do forte, e fomos a banhos nas magníficas praias das Berlengas..

Realmente as praias são um autêntico paraíso..Podemos almoçar pela zona do Porto, tínhamos o barco ao fim da tarde para regressar a Peniche..

Era chegada a hora de regressar, o céu começou a ficar nublado, mas com ele trouxe uma serenidade anormal ao mar, que fez com que a nossa viagem de regresso tenha sido fantástica!!Também já tínhamos sofrido muito para visitar a Berlenga…

Apesar de todos os acontecimentos, a Berlenga é de facto, um paraíso na terra…Era hora de voltar para casa…

Chegávamos a Peniche, um dos lugares que mais gostamos de Portugal e onde já fomos mais de vinte vezes!!

Até um dia destes Peniche!!! <3