Moscovo – Catedral de São Basílio e Kremlin

Moscovo – Catedral de São Basílio e Kremlin

21 de Setembro, 2017 7 Por Vitor Martins

A nossa viagem para a Rússia, foi mais uma grande aventura. Desde logo com a burocracia de tirar o visto. Como moramos longe de Lisboa, tivemos de comprar o serviço por um preço muito superior ao que daríamos na embaixada, mas o problema, é que podíamos-nos deslocar a Lisboa e como são tão burocráticos, termos de voltar sem ter nada resolvido. Assim, de forma prática, a Agência Abreu, tratou dos vistos, e só tivemos de levantar o passaporte na agência. Morando na zona de Coimbra, fazendo as contas de deslocação, se tiver de ir de propósito, e o processo burocrático que temos de passar, não vale a pena ir a Lisboa.

Semanas antes de irmos já tínhamos o visto connosco! 🙂

Estávamos preparados para ir até ao maior país, em dimensão, do mundo, e com um tamanho muito expressivo, de 17,10 milhões de km². O país atravessa 2 continentes, a Europa e Ásia. Faz fronteira com 14 países, pela extensão total Leste/Oeste. Os países são Noruega, Bielorússia, Finlândia, Lituânia, Letónia, Estónia, Polónia, Azerbaijão, Geórgia pelo lado europeu, China, Coreia do Norte, Cazaquistão, e Mongólia pelo lado asiático.

O caminho para Moscovo demora cerca de cinco horas e meia, saímos bem cedo de Lisboa e relaxamos nos céus da Europa, com os nossos vizinhos.

Chegámos a Moscovo numa tarde solarenga, aliás o sol não nos largou durante os seis magníficos dias que passámos pela Rússia. A nossa aventura começou, iríamos apanhar um comboio até a estação principal. Pelos placards seria muito difícil chegarmos ao nosso destino, mas iríamos tentar. 😀

Como levávamos um mapa em Inglês, chegámos ao nosso destino em segurança..

Já na linda cidade de Moscovo, fomos levar as malas ao hotel e seguimos para um dos lugares mais fantásticos da cidade e do mundo, o Kremlin, um complexo fortificado nas margens do rio Moskva ao sul, com a Catedral de São Basílio e a Praça Vermelha a leste e o Jardim de Alexandre a oeste. O complexo serve como a residência oficial do Presidente da Federação Russa.

O nome Kremlin significa “fortaleza dentro de uma cidade”, e muitas vezes também é usado como nome para se referir ao governo da Federação Russa, semelhante à forma como a Casa Branca é usada para se referir à Residência Oficial do Presidente dos Estados Unidos. O termo já tinha sido usado para se referir ao governo da União Soviética (1922-1991) e seus mais altos membros (tais como os secretários-gerais, primeiros-ministros, presidentes, ministros e comissários).

Acabávamos de chegar a mais um lugar histórico e para nós umas das praças mais emblemáticas do mundo. Por aqui recordamos as míticas paradas militares, e conseguimos sentir o significado que para os moscovitas esta praça tem..

Ao fundo ergue-se a magnífica Basílica de São Basílio, ela é de facto uma obra extraordinária. Hoje viemos visitá-la e admirá-la um pouco mais à pressa, mas tínhamos muito mais tempo para saber da sua história.

São imagens deslumbrantes..

Por aqui ficámos sentados na praça a apreciar esta beldade, mas a fome já começava a apertar, decidimos então ir até ao centro comercial na praça. O GUM foi inaugurado em 1893 e serviu durante a era soviética como centro de compras estatal. Agora, qualquer pessoa pode entrar, lá estão as mais caras marcas internacionais de roupa, calçado, jóias, relógios e muitas outras coisas.

Nós como não tencionávamos comprar, focamos-nos num mercado de produtos tradicionais, que estava localizado no rés-do-chão e onde pudemos degustar várias iguarias russas.

Quando decidimos visitar a Rússia, muitas pessoas nos diziam que as pessoas eram antipáticas, que não percebiam inglês, nós sinceramente até agora sentimos precisamente o contrário, não sei se é a mentalidade das pessoas está a mudar, mas por incrível que pareça, quando apanhámos o metro, houve um jovem que ao ver que estávamos a olhar para o mapa, se disponibilizou a ajudar-nos e inclusive nos ofereceu o seu telemóvel para procurarmos o destino que queríamos ir. 😀

O nosso primeiro dia chegava ao fim, voltámos até ao centro da praça para descansar em apreciar toda aquela beleza.

Na Praça Vermelha, lateral ao Kremlin, está o Mausoléu de Lenin que é composto pelas cores vermelha e preta, representando o sangue e o luto, respectivamente, o local é constantemente vigiado pelo batalhão presidencial, mas podemos fazer uma visita ao interior gratuitamente.

Lá dentro está um dos maiores, senão o maior ídolo comunista da Rússia de todos os tempos. Este revolucionário comunista era tão importante para o seu país, que após a sua morte, o governo soviético recebeu muitos telegramas com o pedido de embalsamar o corpo do primeiro líder soviético. Esse pedido foi atendido, e logo em 23 de Janeiro de 1924, dois dias após a morte de Lenin, o professor e patologista Alexei Abrikosov fez este trabalho. Neste mesmo dia, o arquitecto Alexei Schusev garantiu que, dentro de três dias, um projecto do mausoléu estaria pronto, e no dia 26 de Janeiro foi decidido que o mausoléu ficaria na muralha do Kremlin de Moscovo. Em 1929, cinco anos após a morte do líder, foi decidido que o corpo de Lenin deveria ser conservado por mais tempo, e o então mausoléu de madeira deveria ser substituído por um mais estruturado, feito de mármore e granito, além de outros materiais, que seria terminado em Outubro de 1930.

Fomos finalmente descansar, amanhã seria mais um dia longo, mas antes ainda passamos numa das muitas ruas, bastante cheias de polícias, que nos relembrava que faltavam 265 dias para o início do Mundial de Futebol 2018.

Nós realmente tínhamos pensado em ir descansar, mas como na Rússia, quase tudo é possível, conhecemos um russo, que nos levou a um dos muitos bares que existem pela cidade de cerveja estrangeira, ao lado do nosso hotel. Foi lá que degustámos uma cerveja da Escócia, algo não muito comum no nosso país e que ao conversarmos com o dono do bar, ficámos a perceber que muitos dos trabalhadores que estão agora nesta gigante cidade, vieram dos lugares mais pequenos e isolados para aqui tentarem uma vida melhor, comum na nossa terra também, mas claro, a uma escala muito mais pequena.

Agora sim, fomos descansar. No dia seguinte tínhamos um “Free Walking Tour” reservado, íamos conhecer um pouco do centro da cidade com quem realmente a conhece.

Acordámos bem cedo e lá fomos nós para o ponto de encontro do nosso tour. Ainda meios desorientados no metro, lá demos com a paragem certa e subimos para esperar a guia.

Já cá em cima, como tínhamos chegado cedo, fomos tomar um café a um lugar fantástico.

Aqui ao lado, era o ponto de encontro. Melhor não podia ser, estávamos de frente aos dois inventores do Alfabeto Cirílico.

A história tradicional conta que o alfabeto cirílico, foi criado ou formalizado por dois missionários cristãos bizantinos, São Cirilo e São Metódio, no século IX, com o objectivo de transcrever a Bíblia para as palavras eslavas. A ideia, entretanto, é objecto de disputa académica. Paul Cubberly sugere que Cirilo pode ter codificado e expandido o alfabeto glagolítico, mas teriam sido seus estudantes da Escola Literária de Preslava, nomeadamente Constantino de Preslava, que adaptaram o cirílico a partir do grego uncial, como um sistema de escrita mais adequado para os textos eclesiásticos. Atribui-se ainda a criação e/ou difusão a membros da Escola Literária de Ocrida, em especial a Clemente de Ocrida. O que parece certo é que o alfabeto cirílico, nomeado em homenagem a Cirilo,o filósofo, foi desenvolvido e difundido durante o Primeiro Império Búlgaro, razão pela qual alguns defendem que o cirílico seja chamado de alfabeto búlgaro. A maior parte de suas letras teria derivado do alfabeto grego na escrita uncal,  complementado para os sons não encontrados no grego com letras do alfabeto glagólitico, que teriam derivado, por sua vez, da escrita hebraica.

Foi aqui que encontrámos uma simpática guia, que vive em Moscovo, mas que é natural da Sibéria, portanto o dia para ela com sol e calor estava a ser maravilhoso.

Explicou-nos um pouco da sua história, trabalha como guia em Inglês há vários anos e chegou a comentar connosco, que muitas vezes no Inverno, começa o tour com 20 pessoas e acaba na Praça Vermelha com duas ou três, tal é o frio e a neve!!

Passámos de seguida num dos antigos muros que dividia e defendia a cidade de Moscovo.

Fomos descendo em direcção ao Kremlin, e a nossa simpática guia, lá nos ia mostrando igrejas ortodoxas Russas espalhadas por toda a cidade.

São obras de arte magníficas…

Num ápice estávamos no Kremlin novamente, apreciando a belíssima Basílica de São Basílio, e ouvindo um pouco da sua história.

Esta Catedral Ortodoxa Russa, foi construída entre 1555 e 1561. Construída sob a ordem de Ivan IV, para comemorar a captura de Kazan, marca o centro geométrico da cidade e o centro do seu crescimento, desde o século XIV. Foi o edifício mais alto de Moscou até a conclusão do Campanário de Ivan, o Grande em 1600. Portanto ficamos a saber que esta catedral foi a primeira coisa que nasceu nesta praça, e que para além disso foi a partir dela que Moscovo começou a crescer.

O conceito inicial era construir um grupo de capelas, cada uma dedicada a cada um dos santos em cujo dia o Czar ganhou uma batalha, mas a construção de uma torre central unifica estes espaços em uma só catedral. A lenda fala que o Czar Ivan deixou cego o arquitecto, para evitar que construísse uma construção mais magnífica que esta. O seu interior é composto por 9 pequenas igrejas, sendo que a nona, em dias de frio serve de abrigo aos muitos sem-abrigo da cidade. Ela é fechada só para eles, e é uma homenagem a um grande sem-abrigo que viveu parte da sua vida em redor da Catedral de São Basílio, ajudando a cuidar dela. No jardim em frente à igreja há uma estátua de bronze, erguida em honra a Dmitry Pozharsky e Kuzma Mini, que reuniram voluntários para o exército que lutou contra os invasores polacos  durante o período conhecido como Tempos de Dificuldades.

É como nenhum outro edifício russo. Nada semelhante pode ser encontrado no milénio inteiro da tradição bizantina, do século V ao XV. É um edifício algo estranho que surpreende pela sua imprevisibilidade, complexidade e beleza. A catedral antecipou o auge da arquitectura nacional da Rússia no século XVII. Saímos daqui de coração cheio com tamanha beleza… <3

Passámos mais uma vez pelo GUM, hoje transformado num centro comercial igual aos milhões que existem no mundo inteiro, e foi lá que nos aconteceu a primeira história caricata nesta viagem. Lá dentro estava um senhor, amigo da nossa guia, que vendia bilhetes para o espectáculo de ballet do Teatro de Bolshoi, a melhor escola de ballet do mundo. Existiam muitos interessados em comprar, inclusive nós, ele tinha bilhetes para o terceiro andar a cem euros por pessoa!! Era impossível para nós, fui falando com ele, chamei o à parte, ele já tinha vendido parte dos bilhetes, quando viu que não havia mais pessoas começou a descer o preço, mas só foi até setenta euros e nós desistimos. Saímos um pouco tristes…

Mas rapidamente nos animámos… quando parámos em frente ao Mausoléu de Lenin e a guia depois de explicar um pouco da história, e lhe perguntarmos se tem muita repressão do estado, ela respondeu: “já pensaram que, há 20 anos atrás, eu não podia trabalhar em Moscovo sendo da Sibéria e vocês não podiam estar aqui? Ainda foi há muito pouco tempo…” E realmente é um facto, que pudemos constatar minutos depois…

A nossa visita guiada estava a chegar ao fim, estávamos em frente ao Túmulo do Soldado Desconhecido em memória de todos os cidadãos russos que morreram nas guerras, a nossa guia estava a distribuir uns flyers com outras excursões da empresa onde trabalha. A Ana tinha o papel na mão, de repente aparece um homem, alto, tira o papel da Ana da mão sem pedir autorização, começa a ler, e leva o papel.

Ficámos meio assustados com o sucedido, mas a guia explicou-nos que, existe um grande controle para que não haja manifestações contra o governo e as pessoas são severamente punidas e tentarem fazê-lo. Este homem era um dos muitos polícias sem farda que andam a rodear a zona.

Era altura de nos despedirmos da nossa guia, almoçamos, fomos comer um gelado ao GUM e seguimos viagem.

O tempo estava maravilhoso, fomos a pé em direcção ao rio, saímos do Kremlin..

Seguimos em direcção à Catedral de Cristo Salvador com estas vistas para o Kremlin.

Fomos andando tranquilamente, até que avistámos mais uma fantástica loja de venda de pão, doces, cafés, sumos… Foi com esta simpática senhora que passámos algum tempo a conversar, ela pouco percebia de inglês, mas diz que nos últimos anos, têm vindo muito mais turistas e que eles precisam do turismo para evoluir também. As pessoas locais com que tivemos contacto foram sempre muito hospitaleiras. Fantástico!

Sinceramente, o nosso dia estava a ser de sonho, a forma como fomos tratados é inesquecível. Bom, seguimos viagem, a Catedral de Cristo Salvador estava mesmo na nossa frente..

E foi aqui que acabou o nosso dia, descansando nas margens do Rio Moscovo, e agradecendo..

É um facto que é proibido fotografar dentro das igrejas, mas deixo-vos um pouco da Catedral de Cristo Salvador… Foi só uma fotografia, sem exemplo, mas é de facto, um lugar maravilhoso..

Tínhamos de ir descansar que mais logo estava guardada a grande surpresa desta viagem. Fomos descansar até ao hotel, e por volta da hora de jantar, voltámos à zona do Kremlin para jantar numa feira tradicional, com tasquinhas de comida e bebida e com um fantástico carrossel, sempre no imaginário de qualquer criança!

Ainda era um pouco cedo para jantar, tudo ainda se estava a preparar para começarem a servir, decidimos ir dar uma volta nas imediações do Teatro Bolshoi, uma das melhores escolas do mundo para representações de ballet, e um edifício histórico da cidade, construído em 1825 e com capacidade para 2000 pessoas.

Nas imediações, existem vário teatros e outras escolas de ballet. Nós meio tristes por não termos conseguido bilhetes mais baratos para o espetáculo de hoje, ficávamos orgulhosos só de poder estar ali a apreciar o ambiente e o monumento..

Decidimos tentar a nossa sorte e ver se conseguíamos bilhetes, impossível na zona da porta principal. Afastamos-nos um pouco e fomos andando nas imediações, de repente, passam por nós a correr, os dois italianos que tinham comprado o bilhete ao almoço ao pé de nós… Estavam perdidos não sabiam onde era a entrada para espectáculo e faltavam cerca de quinze minutos para começar…

Um pouco mais à frente, avistámos um senhor forte, que nos abordou a perguntar-nos se não queríamos bilhetes. Nós meio desconfiados respondemos que sim, mas só para o Teatro Bolshoi, ao que ele respondeu, que sim, que era para lá que estava a vender os bilhetes. Faltavam cerca de dez minutos para começar, o senhor pediu-nos trinta euros por cada bilhete, nos fomos negociando até que cinco minutos depois, conseguimos os bilhetes, para o último piso por vinte euros para os dois. 🙂

Ele explicou-nos onde era a porta e nós corremos até lá, sempre na desconfiança de que ele nos tivesse vendido bilhetes falsos. Conseguimos entrar com os bilhetes e subimos até ao quinto andar de elevador e depois a pé até ao último andar. Que sorte!! O glamour que existe dentro do Teatro é fantástico, desde logo o atendimento dos funcionários, depois os pormenores lá dentro, as portas com dísticos dourados!

Com os bilhetes na mão, rapidamente fomos para o nosso lugar, o espetáculo estava a começar e queriamos estar uma hora em paz a apreciar o momento… 🙂

A sala é enorme, tem seis andares, o nosso lugar não era em camarote, mas conseguíamos ver perfeitamente. Por respeito, não tirámos fotografias durante o espectáculo, o mesmo não aconteceu no Teatro de Budapeste e fomos chamados à atenção por um funcionário… O teatro é muito antigo, a sua companhia foi fundada em 1776 por Pierre Uroussov e Michael Maddox, o seu associado britânico. Inicialmente, a companhia teatral apresentava-se em locais privados, mas em 1780 adquiriu o Teatro Petrovsky na rua Petrovka e começou a produzir peças teatrais e óperas. Desde a sua criação, o Teatro Bolshoi sedia sua companhia, e tem sido palco de numerosas estreias históricas, incluindo a de 4 de março de 1877 do famoso bailado “O Lago dos Cisnes” de Pyotr Ilyich Tchaikovsky, e de várias composições de Sergei Rachmaninoff.

Uma hora pareceu um minuto, rapidamente o espectáculo acabou, e ficava aquela sensação de querer um pouco mais, mas tínhamos que pensar no privilégio que era termos conseguido estar ali. 😀

A fome apertou e fomos novamente até as tasquinhas, que estavam cheias de gente.

Quando saímos daqui, estavam a assar uma perna de peru, tivemos de ir comer uma sandes de peru assado e comer um peixe seco do rio Moscovo, tão famosa iguaria por aqui..

Para sobremesa nada melhor que umas panquecas de abóbora, que tem uma longa tradição na Rússia. Redondinhas, quentes e levemente douradas, lembram os russos do sol, e, por isso, fazem parte do Maslenitsa – um feriado pagão para dar boas-vindas à primavera, durante o qual consome-se panqueca sem parar por uma semana.

Com elas também fazem obras de arte… O nosso dia estava a chegar ao fim… Tinha sido um longo dia, cheio de emoções, surpresas e improvisos. Um dia perfeito! 🙂

Até amanhã!