Arcos de Valdevez – Onde Portugal se fez!

Arcos de Valdevez – Onde Portugal se fez!

5 de Junho, 2021 0 Por Vitor Martins

Arcos de Valdevez é uma vila lindíssima no distrito de Viana do Castelo. E bem perto está localizada uma das cinco portas de entrada para o Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Foi com este cenário em mente que chegámos a Arcos de Valdevez para uma escapadela de fim-de-semana em família. Na sexta-feira às 16h estávamos a fazer o check-in no Hotel Luna bem no centro de Arcos. Daí a uma hora iríamos ter o nosso primeiro encontro apelidado de “Às Sextas no Transladário” na sede a Associação de Vinhos de Arcos de Valdevez.

Ficámos a saber que o nome advém de, em tempos longíquos, ser ali perto que transladavam pessoas e mercadorias de uma margem do rio para a outra. Aqui conhecemos o engenheiro agrónomo Vitor, que nos explicou todas as “combinações improváveis” que provámos. Desde o magnifico Vinhão, um dos mais valiosos patrimónios da terra, mas em forma de “cacharolete” que é tipo uma sangria, com vinhos de Arcos e muito mais elaborada! 🙂 Até para os miúdos existe um imperdível (sem alcóol claro…). De seguida comemos bolo no tacho com algumas variantes, com queijo de cabra, com vegetais e com sardinha. Que delícia, por nós estávamos “jantados”!

Todos estes pães em forma de pizza retrataram um Arcos rural e as suas tradições ancestrais. O Vitor retratou-nos de forma tão apaixonada todos os elementos, que não conseguimos sair sem a primeira recordação. Entrei dentro da loja vínica e logo o Vitor se dispôs a explicar a história de cada uma das garrafas ali expostas. A conversa estava muito agradável e o entusiasmo era tanto que sem querer tocou numa garrafa, a mesma caiu e partiu-se… Era uma garrafa de Vinhão tinto e já anunciava o prenúncio para um fim-de-semana incrível.
A hora de jantar aproximava-se, mas antes de irmos embora tivemos de provar a sobremesa, gelado com vinhão! Delicioso!!

Era chegada a hora de jantar, vinham aí dias de memórias e mergulhos na tradição dos arcuenses, tanto em gastronomia como em património, mas seriam longos dias, por isso tínhamos de compensar as crianças. Fomos jantar ao Restaurante Romana que tem uma pizza incrível! 🙂 O dia terminava aqui, tínhamos de descansar e repor energias.

O dia seguinte nasceu com um sol incrível, abrir a cortina do quarto do hotel e ver esta paisagem é memorável. A vista para a vila é verdadeiramente fascinante. Tomámos um belo pequeno almoço e seguimos em direção à nossa primeira paragem, a Porta do Mezio.

A Porta do Mezio é um parque aventura e de recepção inserido numa das entradas do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Foi neste lugar incrível que as crianças puderem ter um primeiro contacto com um território tão magnífico, que a UNESCO o considera até Reserva Mundial da Biosfera!

Começámos o dia com uma atividade de arborismo e slide. De seguida fomos fazer uma caminhada até ao Baloiço do Mezio, um dos lugares mais visitados na região.

Foram horas de contacto real com a Natureza e as crianças adoraram. Pelo caminho passámos pelo novo Parque Biológico do Mezio que ainda não foi inaugurado devido à situação pandémica, mas que será mais uma atração, das inúmeras  que este lugar mágico tem.

Num ápice chegámos à hora de almoço. O local escolhido foi o Restaurante da Porta Mezio, agora com um novo projeto onde degustámos pela primeira vez a tão famosa carne Cachena.

Esta incrível experiência gastronómica, regada com vinho verde e com uma conversa improvável com o Dr. Pedro, responsável pelo parque tornou o nosso almoço ainda mais especial. Casualmente, o Pedro sentou-se na nossa mesa ao almoço. Passados cinco minutos e percebendo a sua paixão pela viagem e pela forma de viajar, facilmente as conversas foram fluindo. Das várias aventuras, temos de destacar uma. Arcos de Valdevez tem milhares de pessoas espalhadas pelo mundo. As comunidades que mais se destacam estão na Venezuela, Estados Unidos e França, e aqui, mais especificamente em Bordéus. Foi numa das dezenas de viagens de interligação com as comunidades que o Pedro fez, e estando a Raynair a dar os primeiros passos nos voos para Bordéus, ao chegar ali aconteceu algo muito peculiar. Como de outras vezes, tinha à sua espera algumas pessoas ligadas à terra, que fazem sempre questão de ir buscar os convidados. Foi dentro do carro de um deles que numa das primeiras perguntas que se faz normalmente quando chegamos de viagem, o amável senhor perguntou ao Pedro se ele tinha gostado do “holocausto”. Ele sem perceber bem o que lhe tinham perguntado, não respondeu, e o senhor voltou a perguntar-lhe e ele desviou a conversa. Já no hotel questionou a sua assessora que ia no também no carro naquele momento, ao que ela respondeu…”Oh Dr. Pedro o senhor queria dizer, como tinha corrido a viagem “low-cost”!!!!” Logicamente a seguir soltamos todos uma gargalhada enorme!

Acabado o almoço, tínhamos de seguir para a Vila do Soajo. Soajo foi vila e sede de concelho desde 1514 até meados do século XIX. Toda essa mística faz com que os Soajenses sejam ainda mais defensores da sua terra. Visitámos os tão tradicionais Espigueiros que ansiávamos há vários anos, o Pelourinho e ficámos a saber que brevemente irá estrear uma nova novela gravada aqui. De seguida fomos provar o delicioso pão-de-ló do Soajo, um projeto de uma jovem empresária que tal como muitos outros, ama a sua terra. O calor era imenso, decidimos ir dar um mergulho ao Poço do Buraco no Rio Adrão antes do jantar.

A hora de jantar chegou e nós fomos ao Restaurante Saber ao Borralho. Não podíamos sair daqui sem provar a cachena! Esta maravilha desta vez foi regada com um vinho verde branco loureiro divinal. Ao nosso lado estiveram o presidente da Câmara Municipal e também presidente da Assembleia Geral do Turismo do Porto e Norte, Dr. João Esteves e a sua esposa. Se já tínhamos percebido a visão de quem lidera este magnífico Município, depois deste jantar ficámos com a convicção de que este crescimento sustentado no turismo, só podia ter visionários na sua liderança.

Depois de mais de duas horas de conversa com um dos nossos, em que o João nos contou a sua incrível viagem de mochila às costas na América do Sul, ou a sua viagem pela Ásia com o seu filho, questionamos o porquê de investir nos blogues de viagem para publicitar a sua terra. Prontamente nos respondeu, eu planeio as minhas viagens tirando dicas dos bloguers de viagem, a partir daí faz todo o sentido chamar-vos para nos ajudarem a espalhar o nosso património e a natureza ainda mais. Foi uma conversa incrível e inesquecível, que culminou numa história que conta a todos os Soajenses da nossa geração. Como já percebemos, aqui é difícil alguém mandar, então o presidente só lhes diz, vocês não conhecem Soajo antes de mim. Com dois anos a mãe que era professora dava aulas em Soajo e ele ia com ela todos os dias desde Arcos. O nosso dia estava a terminar, tínhamos de ir descansar que no dia seguinte tínhamos muito mais para aprender.

O domingo acordava solarengo e com a temperatura ideal para ir visitar um dos lugares mais incríveis de Arcos de Valdevez.  O Paço da Giela é um lugar carregado de história. O espaço funciona como um verdadeiro “santuário” patrimonial, num convívio singular entre história e natureza, sendo por tal um dos locais obrigatórios de visita no concelho e na região, naquele que é considerado um dos mais importantes Monumentos Nacionais e um notável exemplar de residência senhorial acastelada da Idade Média e Moderna. A antiga Torre do Paço, completamente recuperada, tem no seu interior um espaço interpretativo e expositivo, composto por três pisos, tal como no projeto original; um é dedicado à Arqueologia do Concelho, outro à interpretação do próprio monumento e um terceiro dedicado ao Recontro de Valdevez, que em 1141 opôs Afonso Henriques a seu primo Afonso VII de Leão e Castela. Estes espaços estão apoiados num eficaz e dinâmico projeto que articula as novas tecnologias e a componente museológica. O topo da torre de menagem, e o seu primitivo caminho de ronda, é um fantástico miradouro sobre as antigas e medievais “Terras de Valdevez” e o belíssimo vale do Rio Vez. Foi neste lugar que percebemos através do arqueólogo Nuno, o porquê do slogan de Arcos de Valdevez.

Diz-se que foi aqui que os primos assinaram um acordo de paz, e assim ganharam tempo e forças para lutar contra os espanhóis. Com esta força extra D. Afonso Henriques conseguiu chegar a Guimarães e fazer nascer Portugal! Nos últimos anos surgiu um novo e moderno projeto neste espaço que é a comemoração do Halloween. Ao que se diz, o Paço de Giela vive uma das noites mais assustadoras do país. Quem sabe no próximo não estaremos por lá. Enquanto nós “bebíamos” História, as crianças participavam numa atividade relaxante, foram “nas asas da fantasia” embaladas pelo som das taças tibetanas.

Despedimo-nos do Paço da Giela com aquela sensação que queremos voltar em breve. O Rio Vez estava à nossa espera para um passeio de canoa em família.

Foram três quilómetros de paisagens deslumbrantes e pura diversão, mesmo ali no coração de Arcos de Valdevez. Ali ficaram, algumas (poucas) das calorias que fomos recuperar ao Restaurante A Floresta em mais um almoço divinal. Já de barriga composta fomos caminhando pela Vila até chegarmos ao último ex-libris da Vila – As Oficinas de Criatividade Himalaya, inauguradas oficialmente pelo Presidente da República a 12 de Maio de 2021. Nesta antiga Escola, os Arcuenses construiram um espaço único e exemplar. O padre Manuel António Gomes mais conhecido por padre Himalaya foi um sacerdote católico, cientista e inventor, pioneiro do aproveitamento da energia solar e introdutor em Portugal do interesse pelas energias renováveis. Foi vegetariano e defensor da naturopatia, em particular da fitoterapia e da hidroterapia. Aqui nasceu a 9 de dezembro de 1868, tendo sido encontrado morto a 21 de Dezembro de 1933. Especulasse que tenha morrido por ter ingerido algo que inventou. Foi ele que inventou o Pirelióforo, uma estrutura composta por espelhos que tendem a reflectir a luz para um único ponto, com vista a fundir materiais. Deixou um legado incrível e finalmente teve o seu reconhecimento em Portugal aqui neste espaço interativo e onde as crianças aprendem coisas extraordinárias. O dificil é tirá-las daqui!

Estávamos a terminar a nossa estadia por Arcos de Valdevez. Nada melhor que um docinho para nos adoçar a boca para o caminho de volta a casa. Fomos provar os tradicionais “charutos”.

Os famosos charutos dos Arcos, recentemente elevados a uma das 7 Maravilhas da doçaria Portuguesa já têm quase 200 anos. Foi a tetravó da Clara (actual proprietária) que inventou este doce tão tradicional. Francisca Doceira como era conhecida, abriu a Doçaria Central em 1830 no mesmo local onde está hoje. A batedeira que utilizava era uma peça tão importante que ainda hoje está na loja. A Clarinha que passou a infância aqui, acabou por não seguir as pisadas da mãe tendo ir trabalhar para um banco. Ao ver que a Doçaria poderia terminar na sexta geração, deixou a vida que tinha para se dedicar ao negócio da família. Aqui podemos lanchar ou tomar um chá, degustando charutos ou biscoitos, ou comprar os famosos rebuçados dos Arcos, mais conhecidos por “cala-maridos”.

Assim terminou a nossa passagem por Arcos de Valdevez, com a certeza de que se houve lugares onde Portugal se fez, só podia ter sido neste lugar maravilhoso!

Até breve

 

*fontes dos registos históricos – Wikipédia