The Scotch Whisky Experience – Edimburgo
Quando marcámos a nossa viagem à Escócia, confesso que este era um dos lugares mais aguardados para visitarmos. Como apreciadores de whisky, tínhamos de ir visitar o museu e conhecer toda a história do whisky escocês! 😀
Começava então a experiência! Entrámos então no paraíso dos amantes do whisky! 😀
Como tínhamos efectuado reserva, bastou apresentar o voucher e aguardar pela hora da visita.
Passados poucos minutos, na hora marcada, a guia bastante simpática e prestável, chamou para quem estava para a visita formar fila.
Entrámos então no mundo do Scotch whisky, uma história com quase 200 anos. A nossa guia, sempre prestável e disponível, encaminhou-nos para um “barril”, onde vamos andando e vendo as várias fases de produção e os componentes do whisky.
Normalmente o whisky escocês é feito de água e cevada maltada. Uma receita simples para uma bebida tão famosa. Mas não é tão simples assim, apesar de precisar apenas de 3 semanas para a mistura ficar pronta, para envelhecer nos barris de carvalho tem que ficar, no mínimo, 8 anos.
Abordaremos, a seguir, as fases da produção da “água da vida”, analisando o processo em 6 fases, visando deixar mais didáctica a apresentação.
1. A Maltagem – Este processo consiste na imersão da cevada em água natural, por 2 ou 3 dias, para proporcionar a germinação do malte. A cevada é posta numa superfície plana e é remexida constantemente para fazer com que toda ela receba a humidade suficiente e por igual, o que irá facilitar a germinação do rebento de malte. Quando o rebento atinge cerca de dois a três centímetros, está na hora de interromper a germinação e iniciar outra fase do processo: A secagem.
2. A Secagem – Este é um dos segredos do sabor da maioria dos whiskys produzidos. Na fase da secagem, o rebento de malte é colocado num forno especial que é aquecido pela turfa, que produz pouca chama e muita fumaça, que fica impregnada no malte, conferindo-lhe um aroma específico, num processo semelhante à defumação. Como a turfa é um material rico em matéria orgânica, ele literalmente repassa as características da região para o malte. Isso é comprovado nos maltes das regiões das ilhas, que leva um sabor “salgado e forte”, ou mesmo da região onde se tem muita urze (arbustos com flores muito perfumadas, que na época das chuvas escorre pelos campos de turfa), geralmente o malte é perfumado e suave.
3. Moagem/Maceração – Para extrair a maior quantidade de material fermentável da cevada, os grãos, junto com os rebentos defumados de malte, são esmagados utilizando-se grandes mós rolantes. Quanto mais moído for o malte, mais açúcar, consequentemente mais álcool se obterá. Nesta fase, o produto (pó) oriundo da moagem é peneirado e colocado em infusão num grande destilador com água quente. Esta operação libera o açúcar da cevada e cria um líquido chamado “mosto”. Geralmente o resíduo desta fase é redireccionado para a ração animal.
4. Fermentação – Acrescenta-se levedura ao mosto quente (70 graus centígrados) para fermentação e transformação do açúcar em álcool em até 72 horas. O resultado deste processo é uma bebida fermentada e doce, com teor alcoólico de 9%. Este produto, retirada as impurezas, é encaminhado para a destilação, penúltima fase da produção do whisky.
5. Destilação – O precioso líquido fermentado vai para os alambiques para passar por duas destilações. O primeiro destilado possui cerca de 20% de álcool. O alambique de segunda destilação é menor, e o destilado chega até 64% de álcool, ponto quase ideal para repousar por vários anos, recebendo, inclusive, água pura, de modo que ele chegue aos 40% ao final do processo de envelhecimento, volume permitido na maioria dos países. O processo de destilação é demorado e a experiência do Master Blender conta muito nesta hora. A bebida que resulta do processo de destilação é incolor, como a nossa aguardente. A cor característica e o incremento no sabor é resultado do envelhecimento em barris de carvalho, durante a fase de envelhecimento.
6. Envelhecimento – Neste momento, apenas três semanas depois do processo de maltagem ter iniciado, o whisky está pronto para “adormecer” e incorporar cor e sabores especificados em sua fórmula original, de acordo com a turfa utilizada para a secagem do malte, a água e o próprio carvalho. A natureza tem sido o maior dos diferenciais na produção do whisky na Escócia. As chuvas que caem o ano inteiro, as mais de 100 mil fontes de água puríssima, e a turfa, reflectem-se e apuram-se a cada ano que passam a envelher.
Depois de passarmos por este processo fantástico de aprendizagem da produção deste “néctar dos deuses”, que podemos ouvir em português enquanto viajamos na barrica, recebemos um telefone onde em português podemos ouvir toda a restante história do Scotch Whisky.
De seguida, entrámos numa sala, onde um ecrã gigante nos mostrou todas as cinco zonas demarcadas de whisky escocês.
Ainda que outros países tenham alguma tradição no whisky, a Escócia é sem dúvida o país que vive mais intensamente a bebida, além de ser seu principal produtor mundial e exportador. Uma das principais razões que faz o scotch whisky tão famoso é a geografia da Escócia, com um clima, relevo, solos e fontes de água perfeitas para a sua produção.
O país possui várias regiões produtoras, cada uma com a sua característica e, por isso, capaz de produzir um sabor diferente. Entre elas, as mais conhecidas são Lowlands, Campbeltown, Islay, Highlands e Speyside. Ainda que a maioria considere apenas estas cinco regiões, há também quem inclua uma sexta, um conjunto de ilhas conhecido como Islands. Conheça um pouco mais sobre elas:
Lowlands
Nas terras baixas e de características planas, no sul da Escócia, é onde se produzem os single malts, mais leves e suaves. De sabor adocicado, agrada inclusive ao paladar feminino. Existiam várias destilarias em funcionamento nas Lowlands no século XIX, mas apenas 5 estão em operação actualmente: Ailsa Bay, Auchentoshan, Bladnoch, Daftmill e Glenkinchie. Com pouco ou nenhum uso de turfa na secagem da cevada maltada, os maltes das Lowlands tendem a ser leves, delicados, suaves, pouco encorpados, florais e com sabores de cereais. Nesta zona, o whisky é mais leve e mais doce.
Campbeltown
A cidade de Campbeltown fica numa península na costa oeste escocesa, próxima das ilhas de Jura e de Islay, e já teve mais de 30 destilarias no século XIX, quando foi considerada a capital mundial do whisky. A produção, porém, declinou com a grande depressão da década de 30 e a Lei Seca Americana e, hoje, Campbelton abriga apenas 3 destilarias em operação: Glen Gyle, Glen Scotia e Springbank. Por estarem próximas do mar, as turfas desta região recebem muita influência do fenol e iodo provenientes das brisas marinhas. Por aqui o whisky é um pouco oleoso e ligeiramente fumado, é forte e encorpado, mas de sabor generoso e atraente.
Islay
É uma bonita ilha da costa oeste da Escócia, que produz um whisky com estilo e personalidade diferenciados. Ao provar o whisky de Islay – pronuncia-se “Aila” – , não existe meio-termo: ou se detesta ou se apaixona por ele. Todo o blended whisky escocês possui na sua composição algum single malt proveniente da Ilha. A Ilha de Islay possui cinco mil habitantes e oito destilarias. Dá uma média de uma destilaria para 625 pessoas. O Malt Whisky em Islay possui características excepcionais e é facilmente identificável. O aroma defumado torna-o seco e tão forte que muitos apreciadores afirmam que sentem o sabor de iodo das algas marinhas. É a única ilha da Escócia que se orgulha de produzir um tipo de whisky que leva seu nome. Seus whiskys são conhecidos simplesmente por Islay Single Malt. Por aqui o whisky tem um sabor salgado e fumado e até o usam com tratamento medicinal.
Entrámos então noutra sala, onde tínhamos à nossa espera os famosos copos de degustação de whisky, que nos seriam oferecidos no final como lembrança… 🙂
Com as zonas demarcadas memorizadas, podemos escolher uma zona e provar…
Como estávamos nas Lowland, optei por provar um, e a Ana um da zona de Campbeltown, eram os dois deliciosos!
Ficámos por ali um pouco, à espera, para entrar no maior museu de exposição de garrafas de whisky escocês do mundo. Para entrarmos lá, as portas abrem se de uma forma fantástica, parecendo que estamos a entrar noutra dimensão.
Por aqui podemos encontrar, milhares de marcas de whisky escocês e até uma garrafa muito especial encontrámos… da Associação Académica de Coimbra. 😀
O museu é um ícone do whisky escocês, por lá provamos mais um à nossa escolha e apreciamos as 3384 garrafas expostas.
O valor da colecção é inestimável e, incorpora um registo da história e do desenvolvimento do whisky escocês, com garrafas raras e luxuosas pertencentes a líderes mundiais, artigos que constituem uma novidade no mundo do whisky e tudo o que pode ser aqui incluído.
Foi o coleccionador Claive Vidiz Diageo, um cidadão brasileiro, que residiu muitos anos em São Paulo e que trabalhou várias décadas em produtos farmacêuticos, que iniciou a colecção. Mais precisamente a partir da década de 70, que começou o seu fascínio pelo whisky escocês, após a oferta, por parte de um amigo, de seis garrafas de Islay. A partir daí a sua colecção nunca mais parou.
Não existe melhor homenagem a Claive, do que aquela que é feita todos os dias pelos funcionários do Museu.
Aqui estão representadas as cinco regiões demarcadas, e ao lado temos o “Blend”, que é o tipo de whisky que é mais vendido para o exterior, que é, tal como o nome indica, uma mistura de todos, e com um grau de álcool mais baixo.
Daqui, saímos para o fantástico bar, onde podemos provar cerca de 400 marcas de whisky diferentes e onde podemos ver ainda mais garrafas expostas.
Foi aqui no bar, que degustamos mais duas marcas de whisky, uma das Lowland e outra das Highland. 😉
Existe uma grande diferença entre os whiskys que provámos aqui e os que são comercializados em Portugal, começando desde logo pelo grau. Muitos destes whisky tem mais de 40%.
Foi aqui que comemorámos o nosso 50º país visitado!! Tínhamos de o fazer de forma especial! 😀
Por aqui ficámos a descansar mais um pouco, apreciando as garrafas, muitas deles com mais de 100 anos…
Ficámos também a perceber que existe uma classificação não oficial do whisky:
1. Scotch – whisky genuinamente produzido na Escócia, e que domina praticamente o mercado mundial. Entre os scotchs mais apreciados estão os do tipo blended, que são misturas de todas a regiões.
2. Bourbon Whisky – whisky produzido nos Estados Unidos, feito à base de milho (entre 60% e 80% de milho). O restante pode ser cevada ou trigo). Outro detalhe que o diferencia no sabor é que a água existente na região das destilarias é muito calcária, diferente da escocesa que sofre influência da turfa dos pântanos dos lagos.
3. Tenessee Whisky – whisky produzido nos Estados Unidos, e tem pelo menos 51% de cereal na sua composição. Segundo os apreciadores, tem sabor parecido com o Bourbon.
4. Irish Whisky – este whisky não é feito apenas de cevada maltada. Ele utiliza cevada não maltada e alguns grãos. Outro ponto que o diferencia do Scotch é que não utiliza a turfa para aquecimento da cevada. Utiliza o carvão, que não exerce influência no sabor do whisky. O whisky Jameson é um bom representante da Irlanda – onde já estivemos também numa visita inesquecível.
Bom, era hora de partir, mas antes tínhamos de passar pela loja. Aqui podemos comprar centenas de marcas de whisky escocês.
Existem whiskys para todas as carteiras…
Cerca de três horas depois, saímos deste fantástico mundo do Scotch Whisky, não sem antes agradecer a hospitalidade e simpatia de toda a equipa. Foram momentos inesquecíveis!!
Fantástica descrição de todo o processo de fabricação do whisky bem como as diferenças que se notam num whisky que é produzido nas diversas regiões da Escócia.
Eu como leigo na matéria fiquei a aprender alguma coisa mais.
E cada whisky é um whisky, o genuíno é escocês.
Os outros são variantes do original, que é claro para se diferenciar e deixar também a sua marca no mundo diferente num ou noutro ingrediente ou modo de preparação do produto final.
É verdade paulo!!o whisky escocês é incomparável
Uau! Eu ADORO uísque, esse seria o passeio perfeito pra mim! Farei com certeza absoluta na minha viagem a Edimburgo, se tudo der certo já ano que vem 😀
Ainda não fui à Irlanda, acreditam? Não sei se a whisky experience é a minha cara, mas gostei de ler a vossa experiência
Para os apreciadores de uísque, esse passeio é bem interessante! É um passeio diferente! No momento só fui em vinícolas. kkkk 🙂 Obrigada pela dica!
Eu adorei esse passeio em Edimburgo. Olha que eu nunca tinha bebido whisky até esse dia! rsrs Uma aula completa, divertida e imperdível!
[…] Lulu Freitas em The Scotch Whisky Experience – Edimburgo […]
A gente nunca imagina toda a história que existe por trás das coisas.. Quantas informações existem sobre esse whisky e, como apreciadores, vocês souberam aproveitar bem a visita.. O relato foi bem detalhado, parabéns!
Como é bom fazer um tour desses e conhecer mais sobre o processo de fabricação e a própria história de uma bebida que a gente aprecia, ainda mais na terra onde ela surgiu! Muito legal.
Vítorrrrrr…leva-me para o vinho, não para o Wiskey ::)))) Não sou apreciador, mas, pelo que vejo, vale mesmo a visita, pela experiência e conhecimentos na matéria. Vou pensar no caso 🙂 Abraço e boas descobertas!
Mesmo não gostando muito de whisky deu vontade de ter esta experiência super diferente! E quer lugar melhor do que a Escócia pra isso? :)))
Gente, vocês anotaram a receira do whisky! Acho que estão com segundas intenções ahaha. Gostei de saber que tem um guia em Português, ausência que sempre sinto na maioria dos países europeus.
que legar acompanhar todo esse processo de criação do whisky. Apesar de não beber, iria só pela curiosidade de saber como tudo funciona. hehehehe! gostei bastante do post.
Que visita bacana! Achei que foi muito informativa. Eu não fazia ideia de todos esses processos! Achei as garrafas lindas e mesmo sem conhecer creio ficaria com um single malte! 🙂
Poxa que bacana hein? Quanta informação bacana… Confesso que não entendo nada de whisky e que uma experiência dessas deve ser bem enriquecedora. Abs
Que aula incrível! Adorei conhecer mais sobre o uísque escocês e essa sensacional atração em Edimburgo (cidade que, aliás, quero muito conhecer). Faz um bom tempo que não experimento um bom uísque. Por que não voltar a fazê-lo nas Highlands? Forte abraço!